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DIOCESE
DE PATOS

Tempo de Pentecostes

Caríssimos irmãos e irmãs, todos os membros da nossa Igreja diocesana de Patos,

Saudações fraternas!

A liturgia da Palavra que nos foi proclamada (cf At.) nos recorda que no dia de Pentecostes “os discípulos estavam reunidos todos no mesmo lugar”. A Igreja só  pode está no mesmo lugar caso queira contemplar o Espírito de Deus e recebê -Lo para sair em missão. Neste lugar estão as diferentes convicções, os diferentes modos de ser, de pensar e de agir, mas esta diversidade não significa babel, confusão, pois esta diversidade não significa a corrida para a superposição de uns sobre os outros ou até mesmo sobre Deus. Estamos aqui no Pentecostes e apresentamos nesta madrugada tão semelhante à madrugada daquele primeiro dia da Ressurreição. Estamos reunidos como diocese de Patos, com as nossas diferenças, nossos carismas diversos, nossas intuições e convicções, mas não estamos na confusão da competição, da concorrência ou do estrelismo. Temos consciência de que a linguagem que nos faz crescer é a linguagem do pleno dom de Deus, o Espírito Santo. A Igreja só pode realizar a sua missão se aprender a língua do Espírito Santo, isto é, aprender a fala que une, que constrói e que santifica na unidade e na harmonia entre os diferentes, pois o Espírito Santo gera a unidade na diversidade e não suporta a uniformidade que empobrece a dinâmica do amor e do serviço.

A Carta aos Coríntios, que nos presenteia com um texto maravilhoso sobre o tema do Espírito único que gera a diversidade de dons e carismas a serviço do Reino, vem sugerir estes pensamentos: O mesmo Espírito é o gerador de muitos carismas; O único Senhor (O Ressuscitado) nos enriquece com tantos dons para que sejam colocados a serviço do bem comum. Só com a consciência do serviço gratuito e generoso as nossas comunidades poderão crescer e levar a alegria do Evangelho. Ninguém poderá usufruir de um dom como propriedade privada, particular, pois assim estaria sendo um agente da confusão babilônica. Infelizmente e não raramente presenciamos pessoas se apoderando de dons com se fossem donos do Espírito Santo, manipuladores que dão ordem a Deus com expressões do tipo: “Eu ordeno, eu determino, eu tomo posse, eu declaro, … eu… eu etc.”. Assim Pentecostes deixaria de ser a marca registrada dos discípulos missionários de Jesus.

Caríssimos irmãos O Ressuscitado tira o medo dos discípulos – trancados, fechados, por medo dos Judeus, por medo das forças contrárias da morte, tímidos e recolhidos, aterrorizados pela morte. O evangelista deixa claro que o Espírito Santo é o desarticulador do mal, o destruidor da torre de Babel em seu projeto e simbolismo,  o restaurador da criação ferido pelo pecado, o consolador e o hóspede da alma humana que geme e chora as suas  próprias dores e outras que lhe são  impostas pelo diabo, pelo inimigo, pelo pai da mentira e do medo. A partir da fala do Ressuscitado “Recebei o Espírito Santo” as portas se abrem, o medo é extinto, a lágrima cessa, a nuvem escura se dissipa de cima do telhado e do interior dos corações atemorizados. Daí em diante comtempla-se a nova realidade: os discípulos em saída, em missão. Contemplamos a Igreja missionária que se desinstala e vai anunciar a todos os povos o Evangelho a partir de uma afirmação eloquente: “O Senhor Ressuscitou., a Vida venceu a morte”.

Não posso esquecer a constante chamada do Papa Francisco a todos nós para que sejamos uma Igreja em saída, desapegada, misericordiosa, profética, acolhedora. Já acolhemos esta eclesiologia que está estampada no objetivo Geral da nossa Ação Evangelizadora no Brasil, mas precisamos recordar sempre para que superemos uma pastoral de conservação e de forma ousada e destemida assumamos a Igreja decididamente missionária. Aqui convoco a diocese de Patos nos seus padres, diáconos, religiosos e religiosas e demais agentes e lideranças nas comunidades para que não nos conformemos simplesmente com o que fazemos ou já temos, pois é preciso avançar sempre mais e de novo lançar as redes, isto é, não desistir diante dos desafios e das pescarias frustradas do nosso tempo. Lançai as redes sempre de novo.

E assim está consumada a Igreja de Jesus e a sua missão. Considero o Pentecostes, seja na linguagem de João ou de Lucas, de forma comparativa como uma empresa que é aberta e consumada como personalidade jurídica para o pleno funcionamento de suas atividades mediante a aquisição legal do  seu CNPJ. A personalidade não jurídica, mas Divina e  missionária da Igreja é o Espírito Santo, dom total e pleno de Deus que a faz funcionar  plenamente.

O Catecismo da Igreja Católica nos recorda alguns símbolos do Espírito Santo: Água, fogo, luz, sopro, nuvem, pomba, mão, dedo. São expressões que nos falam da presença operosa de Deus por meio do seu Espírito. Ele nos toca de tantas maneiras consolando-nos, saciando as nossas sedes, tocando-nos e curando-nos com seu dedo misericordioso, soprando em nós o hálito da vida nova (Batismo), aquecendo-nos com a chama do seu amor, cobrindo-nos com a nuvem que dissipa o medo, a insegurança. Desta maneira o Senhor, por meio do seu Espírito, nos habilita e nos encoraja para a missão.

Com o salmista podemos rezar: “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda da face renovai”. Entendo que a face da terra é a realidade que foi destruída, desfigurada pelas ambições humanas, pelos caprichos de um sistema de morte que se configura de forma tão real em nossos dias: a corrupção política nos vários níveis da sociedade, a destruição e o não cuidado com a preservação do meio ambiente, da natureza, da criação que é o modo de Deus nos tratar com carinho de Pai;  o descuido pela vida desde a sua gestação até o seu desfecho natural – nossas crianças e a  pessoa idosa; A política que de forma tão confusa se arrasta pelos caminhos tortuosos dos interesses de grupos e de facções nem sempre pautadas pela ética e pelo zelo  do bem comum e principalmente pelo bem da pessoa humana. Neste campo penso que a nossa missão é exatamente fortalecer a cidadania, a consciência de responsabilidade das nossas comunidades, incentivando os grupos, os movimentos sociais, as experiências comunitárias e a articulação das pastorais sociais. Não nos esqueçamos das chagas que sangram em nosso tecido social: as violências, a matança da juventude, vítima primaz do tráfico de drogas,  crianças e adolescentes exploradas moral e sexualmente, o tráfico humano e  isto só para não mencionar todas as situações que atingem brutalmente a vida humana, contrariando projeto de Deus.

Diante deste quadro tão desfigurado renovemos a esperança de que Jesus Ressuscitado que nos  prometeu e cumpriu o que disse, enviando –nos o consolador, o advogado, o paráclito nos dê força para o cumprimento da nossa missão de evangelizar, sempre saindo de nós mesmos, das nossas acomodações e dos nossos medos.

Neste ano especial da devoção a Nossa Senhora Aparecida – no tricentenário do encontro de sua imagem – sem deixar de mencionar o centenário das Aparições de Fátima, quero lembrar que Ela é o ícone mais expressivo da evangelização e nos ensina que é necessário deixar-se encontrar pelos que estão sedentos de Justiça e de paz. Maria nos ensina que devemos ser discípulos e discípulas de fácil acesso para as pessoas encontrem em nós  o afeto de Deus, o carinho de Deus.

A Imagem peregrina chegou entre nós, mas antes ela percorreu as nossas paróquias, nossas comunidades, visitou os espações diversos de atividades e vivências comunitárias. Ela nos ensina o modo de ser Igreja em movimento, em missão em constante saída.

Caríssimos irmãos, concluo esta homilia que poderia ser melhor não fosse a limitação espiritual e humana do vosso pastor diocesano; Mas antes quero trazer o simbolismo  do Círio do qual nos despediremos no término do  Tempo Pascal com o ritual e a oração do seu apagamento. Não mais veremos o Círio aceso em nossas celebrações, pois o ressuscitado será visto, será percebido por todos em nossas ações, em nosso caminhar, em nosso falar. Seremos uma multidão de discípulos missionários portadores da luz que se originou na fonte da grande Luz que brilhou no ressuscitado. Guardar o Círio pascal significa entender e assumir a missão que Jesus nos confiou.

Maria, ensina-nos a docilidade, a escuta obediente ao  teu Filho Jesus e ao seu Espírito,  o hóspede da nossa alma.

Amém!

 

Dom Eraldo Bispo da Silva
4 de Junho de 2017

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