Espiritualidade na comunicação

A pergunta primeira, ao escrever sobre a espiritualidade da comunicação, é porque? Por que uma reflexão sobre a comunicação numa perspectiva mística e espiritual?

Nestes quase dez anos de Pastoral da Comunicação, mas mesmo anteriormente, quando comecei a me apaixonar pela comunicação na Igreja, pensei que o fazer comunicação só teria um sentido evangélico se nascesse de um ser comunicação, não meramente instrumental e pragmático, portanto.

E este é um perigo grande ao trabalhar com algo tão exigente, tão instantâneo, que demanda tanta atenção e esforço físico e mental. Quem trabalha com ela já sabe: comunicação é trabalho braçal. Longe da idéia de glamour e sofisticação que transparece do mito midiático, o que existe é suor, fruto do esforço. E não é diferente com a comunicação na Igreja. A cada dia um novo programa na rádio e TV, a cada semana ou mês um novo jornal ou revista, a cada instante uma nova postagem no site. E, quando concluímos uma etapa, tudo começa de novo e do zero. É o trabalho da cozinheira que, a cada manhã, trabalha tanto para ver o fruto do seu esforço consumido em minutos e, tantas vezes, criticado.

Instrumentalizar a comunicação é, de fato, um perigo gigantesco. Esta atitude levaria, inevitavelmente, a um fazer sem sentido, uma luta sem vitória, um esgotamento atrás do sucesso que, tantas e tantas vezes, não chega. Na lógica do mundo, todos os argumentos e atributos podem ser usados para alcançar este sucesso desejado. E alguma coisa sempre se consegue. Na dinâmica do Evangelho, não.

O Evangelho nos impõe uma postura que pode nos distanciar do sucesso, nos afastar da vitória fácil e preterir as nossas aspirações humanas de facilidade e portas largas. Mas, para compreender o Evangelho e entrar numa dinâmica da essência e não da aparência, do conteúdo e não da forma é preciso uma atitude que envolva o ser e, consequentemente, toque as profundezas da vida, determinando as escolhas e os horizontes.

Assim, o primeiro argumento para um espiritualidade da comunicação que não compreenda este serviço apenas como instrumento é o ser.

Ser comunicação deve ser a base do fazer. O cristianismo tem as suas bases no ser que gera o fazer. Lembro bem do, então, Padre Giancarlo Petrini, Reitor do Seminário Propedêutico Santa Teresa do Menino Jesus, onde fiz meu primeiro ano de formação, falando sobre a vocação sacerdotal que não podia ser alicerçada no fazer e, sim, no ser. Ele falava daquele padre recém ordenado que, voltando para a sua cidade natal depois da festa, sofre um acidente de carro e fica tetraplégico. Nunca mais fez nada. Mas nunca deixou de ser padre.

O ser tem raízes profundas, toca a existência, define a identidade, marca a totalidade da vida. O ser não muda ao sabor dos ventos e dos humores. O ser não cansa com o passar dos anos, não esmaece com a quantidade de horas de trabalho.

Quem faz, em algum momento pode deixar de fazer. Quem é, nunca deixa de ser. É verdade que a natureza humana, circunscrita pela fragilidade do pecado, tem o seu ser relativizado, passível de mudanças constantes e variações de interesses. No entanto, quanto mais a raiz do ser estiver fincada na profundidade da terra, mais ele se tornará imune aos ventos das mudanças.

*Padre Manoel de Oliveira Filho – Coordenador Arquidiocesano da PASCOM

Enviado por : Maria Joseny ( Josa) – Pascom Diocesana

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