RELATÓRIO DO BISPO DIOCESANO DE PATOS A PARTIR DA VISITA PASTORAL NA CIDADE DE PATOS NO PERÍODO DE 02 A 04 DE JULHO DE 2015
(Em audiência Pública na Câmara de Vereadores no dia 25 de Agosto de 2015)
“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e dos que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra nada verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração”.
Caros amigos e amigas aqui presentes neste recinto de tão grande importância para a nossa vida sócio- política, aproveito este início da minha fala para agradecer a presença ilustre e relevante de todos. Peço à Presidente desta casa a Excelentíssima Sra. Vereadora Nadigerlane a dispensa das formalidades com que costumamos iniciar os nossos pronunciamentos. Assim sendo, saúdo a todos e todas com afeto e gratidão, sintam-se todos e todas cumprimentados.
Este encontro acontece no contexto da visita Pastoral que realizei na cidade de Patos, nos dias 02 a 04 de Julho deste ano, contemplando algumas áreas e situações. Digo para o conhecimento de todos que a Diocese de Patos é constituída por 38 municípios, sendo eclesiasticamente 36 Paróquias. Destas só na cidade de Patos temos 08 paróquias com a mais recente, criada no mês de fevereiro deste ano no Bivar Olinto, a Paróquia de Nossa Senhora das Neves.
A partir das intuições Pastorais da Igreja Católica sob o profícuo pastoreio do Papa Francisco estamos abraçando a cada dia um modelo de Igreja que vai além de termos sofisticados e se aprofunda por meio de uma prática fundamentada na conduta da saída, da solidariedade, da acolhida, do serviço e da Missionariedade.
Ainda temos no coração o Apelo da última CF que nos chamou a uma atitude de engajamento sem discriminação ou separação entre Igreja e sociedade. Só poderemos servir se, a exemplo do Mestre Jesus de Nazaré, entrarmos nas realidades “enlameando os pés” e, como bons samaritanos, socorrermos os que estão caídos ao longo do caminho. Estamos em profunda comunhão com a chamada do Papa na sua exortação apostólica “Evangelii Gaudium”, com a eclesiologia do Conferencia Latino-americana de Aparecida que iluminou o doc. 100 da CNBB- Comunidade de Comunidades: Uma nova Paróquia- chamando –nos à conversão pastoral e por último, o doc. 102 da CNBB com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.
Nestas palavras iniciais procurei justificar o propósito pastoral como Bispo Diocesano ao visitar – juntamente com os padres que servem e trabalham em nossa cidade – os pontos comuns para a vida do nosso povo de Patos e região, a saber: Hospital e casas de saúde, Presídios e Lixão.
A visita serviu para lançar um olhar propositivo, não um olhar azedo e ácido, pois isto muitos já fazem de forma a satisfazerem os seus egoísmos e propósitos políticos e outros interesses pessoais ou de grupos. O nosso olhar é um olhar à luz do Evangelho que nos convida a sermos sal da terra e luz do mundo, a não ficarmos indiferentes aos acontecimentos e às realidades que desfiguram o rosto de Deus, no rosto dos que mais sofrem e têm a sua dignidade não raramente tirada ou negada.
Passo agora a relatar o que vimos, o que sentimos e o que sugerimos:
- Visita ao Hospital: Há algo muito positivo na estrutura da saúde que é exatamente a presença de pessoas boas, sensíveis aos sofrimentos alheios; vimos muita gente dedicada que é capaz de superar os limites e as deficiências do sistema com gestos de grandeza e de amor. No geral há uma boa estrutura física que pode ser sempre melhorada devido a demanda que é crescente uma vez que sempre mais aumenta o volume social e populacional que precisam destes meios e estruturas físicas e humanas. Constatamos que não faltam recursos materiais em si, não faltam condições para termos uma saúde, se não de primeiro mundo, mas bem melhor do que estar, mas nos falta mais entendimento político, pois os constantes conflitos de ordem política não favorecem uma gestão estável e segura dos recursos que naturalmente são destinados a este tão importante e essencial serviço à população. Em muitos casos, a crise não é financeira, mas é crise de gerenciamento das coisas públicas. Reconhecemos o esforço da gestão local para a aquisição e instalação de estruturas ampliadas como UPAS/POSTOS, porém nem sempre há o constante e perseverante esforço para a manutenção destas estruturas a serviço da saúde pública. Sabemos que nem tudo depende de uma gestão seja Municipal ou Estadual, pois precisamos de forças vivas, de boa vontade dos profissionais da saúde sejam enfermeiros, técnicos e médicos para que realizem com mais humanidade e honestidade a sua missão. Precisamos de uma cultura nova, de uma mentalidade nova de que o serviço à saúde é um serviço à vida, portanto um Sacerdócio. Por falta desta mentalidade ou até mesmo, digo, espiritualidade, nem mesmo o tratamento particular responde à necessidades das pessoas. Planos de saúde, clínicas particulares e outros meios pagos particularmente nem sempre atendem com a devida decência aos seus pacientes. Poderíamos nos perguntar: Falta dinheiro? Faltam recursos humanos? Ou faltam humanos?. Há outras questões que achamos por bem relatar: Falta maior valorização dos agentes comunitários de saúde, pois ele são muito importantes no trabalho de conscientização das famílias – Mais reconhecimento. Há muita reclamação de falta de medicamentos básicos; seria bom mais formação para os conselheiros membros dos conselhos municipais.; Uma dificuldade é que os conselhos municipais não agem com imparcialidade pelo fato de serem muito vinculados ao executivo; muitos conselheiros servem só para assinar a ata da qual nem conhece o conteúdo, quando deveriam participar mais das discussões das prioridades e demais procedimentos; A velha questão dos concursos públicos que nem sempre são cumpridos conforme a lei e por isso permanece o sistema de contratação de prestadores de serviço o que causa grandes dificuldades envolvendo as demandas trabalhistas – “Há uma dívida social para com os prestadores de serviço que cumprem ou cumpriram as suas atividades de maneira qualificada”.
- Visita aos presídios: No geral há uma percepção de que houve alguns progressos no sistema presidiário tanto no Masculino como no Feminino, onde alguns conflitos institucionais têm sido amenizados o que torna o sistema mais leve. Algumas preocupações: alto índice de encarcerados – Patos supera hoje a média nacional que é de 300 presos por cada 100.000 habitantes. Hoje em Patos nos dois presídios contamos com aproximadamente 400 pessoas. Outra dificuldade é a morosidade quando não a ausência do ministério público nos processos dos apenados ou até mesmo sem penas definidas. Constatamos uma boa relação entre agentes penitenciários em geral com a Pastoral Carcerária, há um clima de confiança e de ajuda. Temos notícias de que há um diálogo entre o Governo estado e as Faculdades Integradas de Patos – FIP no sentido de firmar o acordo para a construção do prédio para o presídio Feminino na permuta da áreas com este objetivo. A sociedade está esperando, pois nem sempre os acordos se cumprem em nossa sociedade… “Em papel tudo cabe, mas na prática só Deus sabe”. Será algo muito importante, pois a localização do atual presídio Feminino não está adequada e principalmente nas situações físicas do ambiente em que se encontra. Espero que se concretize este convênio e seja feito um verdadeiro acompanhamento para que haja qualidade no projeto do Presídio que merecerá a mesma dignidade da construção e ampliação do espaço da FIP. Considerando a pessoa humana importante embora em situações diversas, penso que é de grande valor o empenho para que este projeto se realize acima de todo e qualquer propósito de lucro ou de qualquer investimento empresarial. Pedimos às nossas lideranças políticas que não deixem estas questões esfriarem no tempo, pois mesmo quando são de competência do Estado não deixam de ser do nosso interesse comum. Concluindo este ponto, consideramos pertinente a preocupação diante da violência, das drogas, do alcoolismo, dos ambientes de exploração de crianças e adolescentes, com vendas de bebidas, prostituição, etc. Diz o Papa Francisco: “Não podemos ignorar que, nas cidades , facilmente se desenvolve o tráfico de drogas e de pessoas, o abuso e exploração de menores, o abandono de idosos e doentes, várias formas de corrupção e crime. Ao mesmo tempo, o que poderia ser um precioso espaço de encontro e solidariedade, transforma-se muitas vezes num lugar de retraimento e desconfiança mútua. As casas e os bairros constroem-se mais para isolar e proteger do que para unir e integrar”. Poderíamos nos perguntar se o crescimento de nossas cidades está ajudando a termos uma vida melhor, se as pessoas se instalam com segurança e outras condições dignas de vida. Neste sentido poderia questionar se o poder público acompanha este crescimento ou fica por conta dos especuladores que tiram proveito de tudo em nome do progresso e do crescimento da cidade que muitas vezes podemos chamar de inchaço desorganizado?
- Visita ao Lixão: Tenho em mãos textos de leis municipais favoráveis ao tema desta realidade em Patos. Sabemos das dificuldades de implementação destas leis, pois nem tudo que foi prescrito está em pleno cumprimento. Pensamos em chamar a atenção para um melhor relacionamento humano entre os catadores; é necessária a presença de profissionais da saúde que vejam a questão alimentar dos catadores que não raramente é feita ali mesmo no próprio lixão; deve ser vista com mais cuidado a presença de crianças no ambiente do lixão; Verificar se existe alguma situação de exploração de pessoas no lixão; segundo alguns relatos feitos existem os atravessadores que compram o material coletado por preço muito baixo. Reforçamos o que já se disse muitas vezes: a Construção do galpão é fundamental. Pedimos o apoio do Poder municipal neste sentido.
Concluído este relatório quero dizer que não há pretensão de solução por parte da Igreja, mas sim, um esforço com vontade de contribuir, de colaborar na construção de uma sociedade mais justa e mais fraterna para todos. Convido toda a sociedade ao engajamento, à parceria, à união para que juntos possamos dar a nossa contribuição para um novo projeto de mundo e de sociedade.
Muito obrigado!
Dom Eraldo Bispo da Silva
Bispo Diocesano