O planeta passa por diversas situações que colocam em risco a saúde do meio ambiente e, por consequência, a existência da humanidade. Sabemos que o crescimento populacional e as mudanças nos meios de consumo demandam, sobremaneira, atividades extrativistas, expansão dos métodos de geração de energia, aumento da fronteira agrícola, intensificação da atividade mineral, uso indiscriminado de defensivos químicos em lavouras, avanço exacerbado da construção civil, colapsos na mobilidade urbana, entre outras questões.
Essa realidade é dura, mas é latente. E é preciso que analisemos nosso retrato ecológico do ponto de vista do território diocesano. A Diocese de Patos é composta por 38 municípios do sertão paraibano e abrange parte das regiões do Cariri, Serra do Teixeira, Vale do Sabugi, Vale do Piancó, Serra de Princesa e Vale das Espinharas. Com uma população de 365.334 habitantes, segundo o censo de 2022 do IBGE, o que corresponde a pouco mais de 9% da população do estado, podemos observar que temos cidades de pequeno porte e de poucos habitantes, sendo Patos o maior município em termos de população. Contudo, há diversas realidades em praticamente todos os municípios, que contribuem para fortes impactos ambientais e que merecem atenção, tais como:
- Extração mineral: A cidade de Várzea apresenta exploração de quartzitos, um material que atende, majoritariamente, à construção civil e que contribui para a renda do município. Em Junco do Seridó e Assunção, destacamos a extração de caulim, sendo o município de Junco do Seridó o maior explorador desse mineral. O caulim é um produto mineral muito importante para atender a algumas cadeias produtivas, sendo a maior e mais importante a indústria da construção civil. A mineração de caulim, além de gerar passivo ambiental e potencial dano ao meio ambiente, também é considerada uma atividade insalubre para os trabalhadores. Na cidade de Patos, há a extração de calcário para transformação em materiais utilizados na construção civil, bem como a extração de granito para britamento, também destinado à construção civil.
- Energias renováveis: A região polarizada por Santa Luzia passou a ser um importante polo de energias renováveis em 2019, com a construção do primeiro parque eólico da Serra de Santa Luzia. O primeiro parque contava com 45 aerogeradores, chamou bastante atenção pela engenharia envolvida e também proporcionou debates importantes sobre sustentabilidade e a relação com o modo de vida do sertanejo, sobretudo dos pequenos produtores da região. Atualmente, a região possui três grandes parques eólicos, que ultrapassam 200 aerogeradores e têm capacidade de geração superior a 1 GW de energia. A produção de energia eólica é realizada por dois grandes complexos eólicos que abrangem territórios dos municípios de Santa Luzia, São José do Sabugi, Junco do Seridó, Areia de Baraúnas, Assunção, Salgadinho e São Mamede. Além da energia eólica, há também a exploração da energia solar. Na cidade de Santa Luzia, já estão instaladas as Usinas Fotovoltaicas Luzia 2 e 3, pertencentes à Neoenergia, sendo o único conglomerado de energia híbrida, com energia eólica e solar na Paraíba. Além disso, estão em andamento as obras da empresa Rio Alto, que possui um projeto de instalação de 22 usinas fotovoltaicas, com algumas já em funcionamento. A expectativa é de que, quando as UFVs estiverem funcionando em sua totalidade, cerca de 2 GW de energia passem a ser gerados, elevando a capacidade de geração de energia renovável na região para aproximadamente 3 GW. Possuímos ainda a Usina Fotovoltaica Malta/Angico, localizada entre as cidades de Malta e Condado, com capacidade de geração de cerca de 60 MW. A UFV de Malta/Angico foi a pioneira na jurisdição da nossa diocese. No total, mais de 10.000 hectares de terras estão sendo utilizados na geração de energia renovável, sendo mais de 8.000 hectares em energia fotovoltaica, o que tem causado uma situação de desertificação da caatinga sem precedentes.
- Agricultura comercial e familiar e o uso de agrotóxicos: Erroneamente, conhecemos o sertão da Paraíba como um lugar improdutivo e potencialmente seco. É verdade que temos grandes desafios quanto ao uso do solo e à produção agropecuária, sobretudo devido à escassez de água, à má gestão dos recursos hídricos e à posse de terras. Mas, embora enfrentemos tantos desafios, ainda há produção de sequeiro e produção comercial com o uso de irrigação. A diferença entre os dois modelos é que, na agricultura de sequeiro, nem todos utilizam agrotóxicos, enquanto na agricultura comercial, todos os produtores utilizam. É comum encontrar produções de culturas como tomate, cebola, pimentão e batata-doce nas áreas correspondentes aos municípios de Assunção a Manaíra, em toda a serra. O município de Juru é considerado hoje como a cidade da batata-doce, e outros municípios, como Taperoá, Desterro, Teixeira, Maturéia, Imaculada, Tavares e Princesa Isabel, como produtores de tomate. Porém, também há registros de produção de tomate em Assunção, Juru e Manaíra. Todos esses municípios registram a produção de oléicolas, e todas essas áreas utilizam grande quantidade de defensivos químicos. Essa produção é importante para a geração de renda e o abastecimento dos centros de comercialização; no entanto, não há garantia de que os produtos utilizados sejam aplicados da forma correta, de que os trabalhadores façam uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para garantir sua saúde, de que respeitem a carência das aplicações para o retorno ao plantio, de que os produtores respeitem a carência e a dosagem dos produtos, de que as embalagens sejam descartadas corretamente, respeitando a logística reversa, de que os produtores utilizem apenas produtos adequados à cultura e de que haja uma assistência técnica efetiva nas áreas de produção. Portanto, todas essas situações são potencialmente danosas ao meio ambiente e à saúde dos trabalhadores. Além desses municípios da serra, alguns outros da região do Sabugi, do Vale das Espinharas e do Vale do Piancó também possuem registros de cultivo comercial que fazem uso de defensivos químicos em diversas cidades.
- Arborização urbana: Um tema bastante difundido nos meios de comunicação e nas rodas de conversa, que traz preocupação à gestão pública. As cidades com maior ritmo de crescimento enfrentam maiores problemas, uma vez que a mobilidade urbana exige mais espaço nas vias e, como as cidades não se planejaram adequadamente, é normalmente necessário cortar árvores para melhorar o fluxo de veículos. Além disso, devido à falta de planejamento, o crescimento desordenado se estabelece com ruas fora do padrão, que não permitem a convivência harmoniosa entre arborização e mobilidade. Assim, é necessário que a gestão pública possa harmonizar os setores de planejamento, infraestrutura, meio ambiente e afins para planejar a urbanização alinhada à arborização, sob pena de termos, cada vez mais, a elevação da temperatura e outros problemas causados pelo desequilíbrio.
A Campanha da Fraternidade de 2025 nos traz a reflexão sobre a necessidade do nosso cuidado com o meio ambiente e a manutenção da nossa casa comum. Com o tema “Fraternidade e Ecologia” e o lema “Deus viu que tudo era muito bom”, somos chamados à reflexão e ao debate sobre gestos concretos que podem minimizar os impactos ambientais. No entanto, além dos gestos concretos que possamos adotar, é necessário que busquemos debater quais ações políticas, de fato, serão necessárias para mitigar os impactos causados por todas essas ações em nossos territórios, em médio e longo prazo.
Texto e imagens: José Emidio da Silva Amorim
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Coordenador Diocesano da Pastoral do Menor | Diocese de Patos-PB


