No quinto domingo do Tempo Comum, a liturgia nos conduz a uma reflexão sobre três temas essenciais na caminhada cristã: o chamado de Deus, a confiança na sua graça e a autenticidade da fé. A homilia de Dom Eraldo enfatizou a necessidade de respondermos ao convite divino, de reconhecermos a ação de Deus em nossa missão e de cultivarmos uma espiritualidade que vá além de rituais exteriores.No quinto domingo do Tempo Comum, a liturgia nos conduz a uma reflexão sobre três temas essenciais na caminhada cristã: o chamado de Deus, a confiança na sua graça e a autenticidade da fé. A homilia de Dom Eraldo enfatizou a necessidade de respondermos ao convite divino, de reconhecermos a ação de Deus em nossa missão e de cultivarmos uma espiritualidade que vá além de rituais exteriores.
O Chamado de Deus e a Resposta Humana
A primeira leitura do livro do profeta Isaías (Is 6,1-8) apresenta a experiência do chamado divino e a reação humana diante da presença de Deus. Isaías sente-se indigno da missão que lhe é confiada, mas, após ser purificado, responde com disponibilidade: “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8).
Esse episódio ilustra uma realidade constante na história da salvação. Moisés, Jeremias e outros profetas também enfrentaram o temor diante do chamado divino, mas foram fortalecidos pela graça de Deus. Esse padrão se repete nos dias atuais. Muitas pessoas sentem-se despreparadas para evangelizar ou assumir compromissos na Igreja, mas a narrativa bíblica demonstra que Deus não escolhe os mais capacitados, e sim capacita aqueles que Ele chama.
A resposta ao chamado divino exige coragem e abertura à ação de Deus. O cristão, ao reconhecer sua fragilidade, precisa confiar que a missão não depende exclusivamente de suas capacidades, mas da graça que sustenta e conduz.
A Pesca Milagrosa e a Confiança na Graça Divina
O Evangelho deste domingo (Lc 5,1-11) narra o episódio da pesca milagrosa. Pedro e seus companheiros, após uma noite inteira de tentativas sem sucesso, são desafiados por Jesus a lançar novamente as redes. Mesmo diante da frustração anterior, Pedro obedece: “Mestre, trabalhamos a noite toda e nada apanhamos. Mas, por causa da tua palavra, lançarei as redes” (Lc 5,5).
Esse episódio destaca a relação entre esforço humano e confiança na providência divina. O trabalho árduo, por si só, não garante frutos abundantes se não estiver alinhado à vontade de Deus. A experiência de Pedro ensina que o sucesso na missão cristã não se apoia apenas em estratégias humanas, mas na obediência e na fé.
A Igreja, ao longo da história, tem enfrentado desafios na evangelização. Em muitos momentos, os resultados parecem limitados e desanimadores. No entanto, o Evangelho ensina que, quando a missão é conduzida pela confiança em Deus, a abundância de frutos é consequência natural. Assim, os cristãos são chamados a perseverar na evangelização, mesmo diante das dificuldades, crendo que a graça divina age além do que é visível.
A Verdadeira Fé: Relação com Cristo e Superação da Superstição
Um dos pontos centrais da homilia de Dom Eraldo foi a distinção entre uma fé autêntica e a simples adesão a ritos exteriores. Há um risco constante de transformar a vivência cristã em uma prática meramente ritualística, onde objetos sagrados e devoções são vistos como amuletos, sem um compromisso real com o Evangelho.
A fé cristã não se baseia em símbolos vazios, mas em um relacionamento profundo com Cristo. A Eucaristia, por exemplo, não é um simples sinal, mas a presença real de Jesus. Participar da Santa Missa e comungar o Corpo e o Sangue do Senhor exige mais do que um ato externo; implica uma transformação interior que deve refletir-se no cotidiano.
Essa reflexão questiona a forma como muitos cristãos vivem sua espiritualidade. A devoção não pode ser reduzida a gestos mecânicos ou a uma tentativa de buscar favores divinos sem um compromisso com a vivência do Evangelho. O verdadeiro cristianismo exige conversão contínua, escuta da Palavra e prática do amor ao próximo.
O chamado de Deus, a confiança na sua ação e a autenticidade da fé são aspectos fundamentais da caminhada cristã. A experiência de Isaías, a pesca milagrosa e o alerta contra uma religiosidade superficial são temas que nos interpelam a uma vivência cristã mais profunda.
Diante desses ensinamentos, cabe a cada fiel questionar-se sobre sua resposta ao chamado divino, sua confiança na graça de Deus e a qualidade de sua vida espiritual. A missão cristã não se resume a esforços humanos ou a ritos exteriores, mas a um compromisso real com Cristo e com a evangelização. A liturgia deste domingo nos convida, portanto, a lançar as redes mais uma vez, não apenas no mar da vida cotidiana, mas nas profundezas de uma fé verdadeira e transformadora.
Por Letícia Medeiros, Departamento Diocesano de Comunicação